Eu te vi pela primeira vez perdida em seus devaneios, menina tão cheia de sonhos, tão cheia de cores, seus pés balançavam do alto daquela varanda, a última da escadaria. E, por coincidência ou não, também foi assim a última vez que te vi, anos depois. De verdade. Menina mulher, que sabia o que era o amor, sim, sabia porque nunca havia se apaixonado. Mal sabia que se perderia quando o primeiro amor, o amor por outrem, acontecesse.
Se eu soubesse que você se perderia após seu primeiro amor, teria te chamado para um café naquele dia, sim, no dia em que a vi pela primeira vez. Sentaríamos no lugar mais charmoso daquela pequena cidade e te encheria das minhas bobozeiras de menino, lhe diria o quanto você é linda e o quão cativante era o seu olhar e depois de te deixar envergonhada com a minha enxurrada de elogios, lhe deixaria perdida ao te explicar que eu não a amava, mas você se amava tanto que isso me encantava e deixava qualquer um perdidamente apaixonado por você. Seu amor em primeira pessoa era o seu ponto forte, seu norte, seu encanto.
Quem ama em primeira pessoa entende com gosto que a vida é cheia dos prazeres mais coloridos, que se perder é mais interessante quando você sabe que seu porto seguro é você mesmo. O amor em primeira pessoa é tão intenso que contagia, anestesia, cura e embeleza qualquer ser. Quem ama em primeira pessoa não ama o próximo esperando algo em troca, ama por calor, por prazer, por loucura, por amor. No momento em que você ama em primeira pessoa, você se entrega de verdade ao amor e a quem tiver que amar no momento exato, sem mais devaneios.
E era tudo isso que eu deveria ter te explicado. Você esqueceu do amor em primeira pessoa, minha doce menina. Você se jogou de cabeça no amor conjugado em terceira pessoa. Mas sei que ainda há tempo. Venha, reconstrua-se. Na hora certa, o amor próprio transbordara e você poderá compartilhar.





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